“O conhecimento é poder” – BACON

Este conteúdo faz parte da série “Pílulas filosóficas para cientistas de dados”,  que podem ser encontradas AQUI


Francis Bacon (1561-1626) é reconhecido como o primeiro de uma tradição definida como Empirismo Britânico, caracterizado pela visão de que todo conhecimento deve vir essencialmente da experiência sensorial.

Ele definiu que o conhecimento científico ergue-se sobre si mesmo. O conhecimento avança firme e cumulativamente, descobrindo leis e tornando invenções possíveis, permitindo que as pessoas façam coisas que não poderiam ser feitas – o conhecimento é poder!

Mas Bacon também alerta que o ser humano possui barreiras internas que influenciam -podendo desviar- a busca de conhecimento científico, o conhecimento real sobre a natureza, e elaborou uma lista de barreiras psicológicas que ele chamou coletivamente de “Ídolos da Mente”. Segundo Bacon, todos nós teríamos barreiras internas como, por exemplo, “ídolos da tribo” – a tendência dos seres humanos como espécie que generaliza, os “ídolos da caverna” – nossa inclinação para impor preconcepções sobre a natureza, em vez de examinar o que realmente está lá, os “ídolos do mercado”- facilidade com que deixamos as convenções sociais distorcerem nossa experiência ou  “ídolos do teatro”- a influência deformadora dos dogmas filosóficos e científicos predominantes. O cientista, de acordo com Bacon, deve lutar contra todos eles para adquirir conhecimento sobre o mundo.

Estes pensamentos de quatro séculos atrás são totalmente vigentes e adaptados a nossa realidade. Sem dúvida alguma a Ciência de Dados traz poder. Empresas que aplicam uma visão científica nos processos de decisão ficam mais competitivas e poderosas. Profissionais que desenvolvem habilidades analíticas ficam empoderados, acelerando suas carreiras dentro das organizações. É comum ver cientistas de dados que migram a postos chaves de gerência precisamente pelo poder que adquirem.  

Mas os cientistas são – obviamente – humanos, e portanto propensos como qualquer outro humano a cair nas armadilhas descritas por Bacon. Nos dias atuais este risco está cada vez mais presente. Vivemos numa sociedade repleta de sinais confusos e fragmentados, propensa a mudar com rapidez e de forma imprevisível – definida pelo filósofo Zygmunt Bauman (1925 – 2017) como “modernidade líquida”. Nesse mundo líquido, cada um de nós está inserido em várias tribos, até mesmo sem perceber. Os conceitos religiosos, políticos, ideológicos e culturais que regem essas tribos podem influenciar nossas opiniões e pior, a nossa capacidade observacional.

O alerta do Bacon é, portanto, um dos mais atuais que podemos receber da filosofia. Os cientistas de dados, sendo geradores de poder, precisam estar conscientes da presença dos “Ídolos da Mente” que nos espreitam em qualquer deslize. Uma defesa contra esses ídolos é cultivar permanentemente nosso ceticismo. Para que uma mente científica seja poderosa deve ser sempre cética em relação aos dados, às explicações plausíveis, à sabedoria convencional e às ideologias inspiradoras, cética em relação aos líderes e influenciadores, e inclusive, cética até da sua própria intuição.

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